Inspirado pela nova forma de cobertura das eleições anunciada pela SIC (http://ultimahora.publico.pt/shownews.asp?id=1214994&idCanal=33) decidi experimentar algo do género e estou neste momento a “blogar” ao vivo e em directo da cozinha do primeiro andar da residência Lucien Paye. Isto enquanto assisto a uma animada conversa entre 7 hermanos espanholes, que se estão já nas tintas para o facto de eu não perceber um boi de grande parte do que eles dizem.
No início ainda fizeram um esforço para falar francês, uma língua comum a todos (embora nenhum de nós a fale assim muito bem). Depois passaram a uma segunda fase, em que mudaram gradualmente para o espanhol, falando (relativamente) devagarinho e confirmando se eu percebia o que eles iam dizendo. Mas entretanto engataram a quinta e, nesta altura, com 7 pessoas a falarem quase ao mesmo tempo, cada uma com o seu sotaque próprio e com temas tão polémicos (?) como a imigração em Espanha desde o início do século e a diferença entre os all-star e os novos ténis da Puma, as únicas partes que eu percebo perfeitamente são os repetidos “Hoder!”, “acojonante”, “Mi estás hodendo, tia!” e outros impropérios afins.
Vendo-me agarrado ao laptop, pediram-me agora para eu por “una musiquita” e eu aproveitei para retaliar. Levaram com música portuguesa, obviamente. Totalmente desconhecida para eles, claro. Nem sequer Xutos ou GNR. Bem, ok, eu também não reconheceria 98% da merda que eles ouvem. A única música que ainda teve algum sucesso foi o “Estou na Lua” que um deles (o Alex) reconheceu dos seus verões na Galiza (?!?!).
Entretanto já aprendi qualquer coisa de útil em espanhol. Útil e socialmente interessante, pois prova que os vizinhos são bem mais machistas do que os tugas. Cojonudo é uma expressão para dizer que algo é muito bom. Coñazo, inversamente, é o que eles usam para dizer que alguma coisa não vale a ponta. As raizes de ambas as expressões são facilmente perceptíveis. E até as espanholas se revoltam contra o machismo da dualidade, ainda que continuem a usar ambas expressões (e bastante).
Bem, pensando melhor, em português é a mesmíssima coisa. Quando uma coisa é boa, é “do caralho” e quando é má, é “da pachcha”! Lá se foi a teoria.
O grupo ficou agora mais multi-cultural, ainda que igualmente desequilibrado, com a chegada da tuga Joana e de um canadiano de Montreal (mais um Alex... já vão 4 aqui em Paris!). O vizinho do quarto ao lado veio entretanto refilar com a barulheira (estes espanhóis fazem cá um chavascal) e a duração do conbíbio parece ameaçada. Como recebemos todos nas caixas de correio um aviso da Administração da residência de que já tiveram que intervir 3 vezes por causa de barulho depois da hora do silêncio obrigatório (22h00 nos corredores, 24h00 nos quartos) e de que esperam não ter que intervir uma quarta. Vamos a ver...
(Eu, Ima, Unai, Joana, Rocio I, Alex I, Gabriella I, AnaLola, Rocio III - encontro ibérico na cozinha do 1.º Andar)