lundi, octobre 10

5 - CitéU

Viver numa residência universitária era um antigo sonho meu. OK, sonho é um bocado forte. E fruto de muita série americana, eu sei.

Mas o que é certo é que era uma experiência que eu gostava de ter. E estava consciente de que esta seria, provavelmente, a minha última oportunidade para o fazer. Daí a minha total prioridade em vir morar para a CitéU.

A Lucien Paye não era talvez a residência que eu imaginava. Mas após algum choque inicial, acabei por adaptar-me. E ela tornou-se, efectivamente, e durante 6 meses, Chez moi.

Nunca tive (e algo me diz que nunca mais vou ter) uma casa com tantas divisões – desde a cheirosa sala da net (onde arranjar lugar foi muitas vezes difícil ou mesmo impossível), à lavandaria (e aos dilemas de como arranjar moedas para a secagem ou de o que fazer com as máquinas cheias de trajes do Burkina Faso cujo proprietário não aparece quando nós precisamos da máquina) e às cozinhas dos vários andares (palco das mais variadas obras-primas gastronómicas originárias de várias cozinhas mundiais – os estorricados chineses, os crepes africanos e as pastas luso-parisienses) – nem uma casa com tantos room-mates (desde as comitivas tuga e espanhola, ao Maurício, o Nigeriano do Níger, o Canadiano do Québec, o Bosniak e a Bosniaka, o Maliano Saudável, o handymen-homónimo-emigra-tuga, a empregada muçulmana, o recepcionsta mAlain, e muitos outros).

O meu quarto, o grande 225, essa grande suite virada a poente, também ficou com um cantinho especial no meu coração. Distintamente decorado (com minies, MMSs criativos e alguns anúncios), funcional qb, tinha uma janelona espectacular com vista para os jardins (no parapeito da qual preparei e fiz muitas refeições), uma casa de banho minúscula e um quadro eléctrico que disparava sempre que eu abria o armário da roupa.

A Cité Universitaire Internationale é, também ela, um espectáculo. Lindíssima. Muito calma e bem arranjada. Com óptimo ambiente. Uns jardins espectaculares, residências de vários estilos arquitectónicos.

Destacam-se os passeios diurnos turísticos e os nocturnos de reflexão, a decrépita residência André de Gouveia (que ainda assim serviu para ver as legislativas e alguns jogos de futebol), o Restô (do franguinho e dos bifes em sangue, sempre acompanhados de couscous), os crepes à volonté na casa do sudeste asiático e, claro, as festas nas várias residências, cada uma com o seu estilo, cada uma com a sua frequência, todas bastante animadas.