samedi, octobre 22

C'est fini

Não é que tudo o que é bom chegue ao fim. Recuso-me a acreditar nisso.
E também não é que Paris já nada signifique para mim.
Simplesmente, as coisas têm o seu tempo, espaço e razão de ser.
E os Crepes esgotaram os seus.

Obrigado ao blog. Acompanhou-me sempre, cresceu sozinho, e serviu para tanta, tanta coisa...
Obrigado aos que aqui vieram.

E pronto.

Cá vou eu. A caminho de outra.



Au revoir Paris...


lundi, octobre 10

Crème de la crème

Os meus 6 meses de Paris passaram a voar.

Ainda não sei se foi uma life-defining experience, ou se simplesmente foram uns meses de férias numa das capitais da Europa. Provavelmente foi algo aí no meio.

Para sempre, vão ficar as histórias, as memórias e as imagens daqueles meses de 2005 passados na cidade da luz.

Com a minha memória de peixe, daqui a uns tempos já não me vou lembrar de grande parte das pessoas, lugares e experiências. Como diria um famoso escritor e humorista francês: «J'ai une mémoire admirable... j'oublie tout».

Mas há certas coisas de que não me vou esquecer. Umas porque ficaram aqui nos Crepes esturricadas para sempre. Outras porque são demasiado marcantes para, até mesmo eu, me esquecer delas.

Eis o top-5 daquilo que mais me marcou nestes 6 meses, um highlight dos highlights... La crème de la crème:

5 - CitéU

Viver numa residência universitária era um antigo sonho meu. OK, sonho é um bocado forte. E fruto de muita série americana, eu sei.

Mas o que é certo é que era uma experiência que eu gostava de ter. E estava consciente de que esta seria, provavelmente, a minha última oportunidade para o fazer. Daí a minha total prioridade em vir morar para a CitéU.

A Lucien Paye não era talvez a residência que eu imaginava. Mas após algum choque inicial, acabei por adaptar-me. E ela tornou-se, efectivamente, e durante 6 meses, Chez moi.

Nunca tive (e algo me diz que nunca mais vou ter) uma casa com tantas divisões – desde a cheirosa sala da net (onde arranjar lugar foi muitas vezes difícil ou mesmo impossível), à lavandaria (e aos dilemas de como arranjar moedas para a secagem ou de o que fazer com as máquinas cheias de trajes do Burkina Faso cujo proprietário não aparece quando nós precisamos da máquina) e às cozinhas dos vários andares (palco das mais variadas obras-primas gastronómicas originárias de várias cozinhas mundiais – os estorricados chineses, os crepes africanos e as pastas luso-parisienses) – nem uma casa com tantos room-mates (desde as comitivas tuga e espanhola, ao Maurício, o Nigeriano do Níger, o Canadiano do Québec, o Bosniak e a Bosniaka, o Maliano Saudável, o handymen-homónimo-emigra-tuga, a empregada muçulmana, o recepcionsta mAlain, e muitos outros).

O meu quarto, o grande 225, essa grande suite virada a poente, também ficou com um cantinho especial no meu coração. Distintamente decorado (com minies, MMSs criativos e alguns anúncios), funcional qb, tinha uma janelona espectacular com vista para os jardins (no parapeito da qual preparei e fiz muitas refeições), uma casa de banho minúscula e um quadro eléctrico que disparava sempre que eu abria o armário da roupa.

A Cité Universitaire Internationale é, também ela, um espectáculo. Lindíssima. Muito calma e bem arranjada. Com óptimo ambiente. Uns jardins espectaculares, residências de vários estilos arquitectónicos.

Destacam-se os passeios diurnos turísticos e os nocturnos de reflexão, a decrépita residência André de Gouveia (que ainda assim serviu para ver as legislativas e alguns jogos de futebol), o Restô (do franguinho e dos bifes em sangue, sempre acompanhados de couscous), os crepes à volonté na casa do sudeste asiático e, claro, as festas nas várias residências, cada uma com o seu estilo, cada uma com a sua frequência, todas bastante animadas.

4 - Crepes

Num cenário geral de comida medíocre (já que a maior parte das minhas refeições eram cortesia das cantinas do CROUS - Mabillon, Mazet, CitéU – onde a comida deixa quase tudo a desejar) os crepes foram muitas vezes a minha salvação. Aquilo que me manteve vivo para contar todas estas histórias.

Um confiture de fraise da Porte d'Orléans foi algo de essencial de Janeiro a Julho (com um duro interregno de um mês em que aquilo fechou por causa das malfadadas obras do tramway, que aliás foram presença constante até ao fim).

Tenho a certeza que quando voltar a Paris hei de lá ir de propósito até ao final da linha 4 só para comer um crepe. Tal como em Lisboa se vai a Belém aos pastéis, e em Bruxelas à Rue Neuve às Gaufres, em Paris...

Menção de Honra para os pains au chocolat na boulangerie ao lado da escola, e para as baguettes da boulangerie ao pé da residência.



3 - Crepes de Paris

Estes mesmos. A blogosfera é um mundo que de fora parece interessante. Mas só quando por cá se anda é que se percebe verdadeiramente a piada disto: a vontade incontrolável de postar às 5 da manhã; o entusiasmo pelo crescente número de hits diários; a curiosidade pelos primeiros links e pelos primeiros comments; a utilidade como instrumento de comunicação directa ou subliminar.

Viver uma experiência destas é muito giro. Mas como todas as coisas boas, apetece sempre partilhar. E os crepes foram sempre um instrumento privilegiado para o fazer.

Quem diria que 6 meses volvidos teria ainda um grupo de pessoas a consultar o site regularmente (mesmo depois de longos períodos de falta de actualizações, pelos quais me penitencio) e que os Crepes de Paris ultrapassariam a mítica marca (mitica para mim) dos 2000 hits! Foram pelo menos 2138 vezes que alguém pensou: «Deixa cá ver o que é que este anda a fazer». : )

Obrigado a todos os que aqui vieram (principalmente às quartas, entre as 6 e as 7 da tarde) e, sinceramente, fico lisonjeado por terem tido paciência para vir cá (ou cá vir) ler as parvoíces que me fui lembrando de postar. Espero que tenham gostado das fotos, pelo menos.

2 - Amis

Abraçar uma experiência destas no estrangeiro é um empreendimento ao nível das Descobertas. É que descobre-se muita coisa – novos sítios, novas realidades, novas culturas e, obviamente, novas pessoas.
E melhor do que conhecer pessoas aqui e ali, é fazer amigos daqui e dali, que estão lá e que estarão, daqui a um tempo, noutro sítio qualquer, prontos para serem visitados : )
Conhecer pessoas com quem partilhar pequenos pedaços da vida origina novas experiências, potencia as aventuras vividas e constitui também um escape para a necessidade de se partilhar o que se está a descobrir. E quando as pessoas à tua voltam estão, também elas, a viver uma Descoberta, sentimo-nos parte de uma nova vaga de colonização global – a tribo das pessoas que se metem nestas coisas é de facto muito peculiar.
Aproveitei portanto estes meses para, na medida do que a minha timidez e independência permitiram, conhecer gente (muita) e fazer amigos (alguns).
Desde os latinos do DESUP, aos africanos da LUCIEN, aos franceses (sim, também os houve, embora bem menos do que pensaria) de PARIS. E, claro, aos tugas da TUGALÃNDIA, os emigrados e os emigrantes, e dezenas de outras nacionalidades encontradas na CitéU, nas aulas de francês, nos amigos dos amigos, etc.
Aproveitei ainda para reatar o contacto com alguns amigos de aventuras anteriores (ex-colegas de Bruxelas e co-emigrados). E espero portanto manter o contacto com os tais alguns, embora tenha a certeza que vai acabar por ser com menos do que os que eu pensava na hora da partida.

Por esta altura já me esqueci de grande parte dos nomes das pessoas que conheci. Mas ainda assim, vou tentar enumerar as que me lembro, mais ou menos por ordem cronológica: Joana, Ana, Lucien, Miguel, de Souza, Sofia, Sónia, Rocio, Gabriela, Álvaro, Maria, Miguel, Filippo, Giovanni, Giulia, Maura, Mathieu, Khedoudja, Rocio, Carolina, Genoveva, Raquel, Paloma, Sophie, Kateryna, Alex, Jaime, Ana Lola, Gabriela, Laura, Anorética, Achioly, Madame Beneieto, Beneieto, Nafilian, Alain, Sadio, Raquel, Alessandro, Flo, Ibrahim, Ines, Ivan, Ivan, Lorcan, Michael, Mira, Georgia, Maurício, Inma, Unai, Carolina, Leoni, Caroline, Amin, Alessandra, Federica, Rodnei, Selva, Sonja, Sagawah, Davide, Laurent, Fiona, David, Gini, Sandro, Jorg, Sissy, Huang, e muitos outros alguns dos quais estou a ver a cara (e até tenho fotos) mas não me lembro do nome (o q me está a irritar profundamente!), outros com os quais falei apenas uma ou duas vezes, nesta ou naquela festa, e dos quais me lembro muito pouco ou quase nada.
Espero manter contacto regular com pelo menos 14 deles, e visitar nos próximos tempos para aí uns 7 (parecem-me objectivos modestos e atingíveis).
A rede continua a expandir-se. E o que tem piada é o cozer.

1 - Paris

« If you are lucky enough to have lived in Paris as a young man, then wherever you go for the rest of your life, it stays with you, for Paris is a moveable feast. »

Hemingway



Nada do que eu possa escrever sobre esta cidade faria jus ao que ela realmente é. E já tanta gente escreveu sobre ela que inevitavelmente iria acabar por plagiar alguém.

Portanto vou-me abster de tentar grandes descrições. Paris é Paris. Paris vem no topo da minha lista não só porque é uma cidade única, lindíssima, ENORME, caprichosa e cheia de personalidade, mas também porque ela significará, para mim, para sempre, algo de muito especial. Foi um local de descoberta e de redescoberta. De grandes alegrias e algumas angústias. Um período da minha vida em que, apesar de ainda meio perdido, vivi quase sempre na total despreocupação.

E acreditem em tudo o que se diz sobre Paris. Todos os clichés, todas as frases feitas, todos os lugares comuns: Paris é uma das cidades mais bonitas do mundo; Paris é a cidade do amor; Paris transpira cultura por todas as esquinas. São infinitas as coisas para ver e fazer em Paris.

Paris é mesmo a cidade das Luzes – a luz natural dos fins de tarde nas margens do Sena; a luz da torre Eiffel a brilhar de hora a hora; a luz dos túneis do Metro, das iluminações para os JO, da fontaine de St. Michel à noite; do pôr do sol na CitéU.

A tua luz encandeia, Paris. Nunca deixes que se apague.



Paris marcou. E quem ganhou fui eu.